Como funcionam os melhores sistemas educacionais do mundo

11/10/2016

Enquanto o Brasil ainda luta para estabelecer um sistema educacional de qualidade, alguns países já possuem métodos comprovadamente eficazes para “produzir” cidadãos conscientes e bem educados. Uma prova de que o nosso país ainda tem um longo caminho a percorrer é a recente polêmica envolvendo uma proposta anunciada pelo Governo Federal para alterar vários pontos no currículo de escolas do Ensino Médio.

Em contraste a esse quadro, nações como a Coreia do Sul, Canadá e Japão têm apresentado resultados cada vez mais impressionantes com relação à educação. O reflexo disso nós já conhecemos (ao menos na teoria): adultos mais qualificados e preparados para enfrentar o concorrido mercado de trabalho e os desafios da vida. Mas o que países como esses e muitos outros têm que o nosso Brasil não tem?

 

A polêmica da MP 746/2016

A primeira grande diferença entre esses países e o Brasil é a existência de um sistema educacional estabelecido e que esteja em pleno funcionamento. Desde que Michel Temer assumiu o poder após o Impeachment de Dilma Rousseff, uma das suas primeiras propostas foi a alteração de parte do currículo de escolas do Ensino Médio.

Como funcionam os melhores sistemas educacionais do mundo

A Medida Provisória (MP) 746/2016 incentiva a adoção do ensino em tempo integral nas escolas. Isso significa um aumento de 800 para 1.400 horas de aula dia, ou 7 horas diárias de ensino nas escolas de Ensino Médio. Entretanto, não é essa a parte da MP que tem chamado mais atenção e gerado polêmica entre a população.

A MP também propõe uma mudança em relação ao conteúdo obrigatório, dando mais ênfase para cinco áreas do conhecimento: ciências naturais, linguagens, matemática, ciências humanas e formação técnica e profissional. Além disso, a Medida Provisória também tira as disciplinas de espanhol, artes, educação física, sociologia e filosofia do currículo obrigatório dos estudantes, embora permaneçam na Base Nacional Curricular Comum (BNCC).

Diante desse quadro nebuloso, voltamos a pergunta: qual é a diferença entre esse sistema educacional confuso e indefinido com o de países bem estabelecidos nesse sentido? Para tentar responder essa questão, apresentamos os cinco países com os melhores sistemas educacionais de todo o mundo, apresentados em ordem alfabética.

 

  1. Canadá
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Não é surpresa nenhuma que o Canadá faça parte dessa lista. Afinal, estamos falando do país com o nono maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH, uma medida que leva em consideração aspectos como riqueza, alfabetização e educação) do mundo. Para alcançar esse posto, foi necessário investir em um sistema educacional maduro e funcional.

As escolas canadenses se diferenciam por apresentarem uma proposta que se desvia do foco dado pelas matérias exatas. Por lá, investe-se bastante em disciplinas relacionadas ao campo das humanas, como cidadania e criatividade. O objetivo é criar cidadãos com um senso crítico apurado, o que tem dado bons resultados.

Diferente do que acontece no Brasil, o ensino no Canadá é descentralizado. A responsabilidade não é do governo, mas de cada província individualmente, que decide até mesmo se vai haver ou não o ensino de uma segunda língua para os estudantes. Há basicamente dois tipos de escolas públicas: as “public schools” e as “catholic schools”, sendo que esta última se diferencia pelo ensino de costumes da religião católica. No Canadá, as escolas particulares são caríssimas.

 

  1. Coreia do Sul
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No Brasil, há um grande foco e muito investimento para colocar alunos em universidades e faculdades. Porém, a Coreia do Sul resolveu pensar no outro lado desse cenário e investir massivamente no Ensino Fundamental, estendendo o apoio para o Ensino Médio. A erradicação do analfabetismo e altos índices de aprovação em grandes universidades mundo afora são provas de que a estratégia tem dado certo.

Ao todo, são 12 anos de estudo para todas as crianças e adolescentes sul-coreanos: seis no Ensino Fundamental, três séries intermediárias para preparação e outras três de Ensino Médio. Entretanto, a Coreia do Sul não se destaca apenas pelo tempo em escola. Por lá, os professores têm grande prestígio e recebem ótimos salários, o que pode ser encarado como uma piada por aqui.

Na Coreia do Sul, disciplinas tradicionais também fazem parte do currículo obrigatório. Ciências, estudos sociais e matemática são ofertados para todos os alunos. Porém, disciplinas como educação moral, música, artes, tecnologia e ciências domésticas também são ministradas em diversas escolas. Será que em vez de retirar matérias o Brasil não deveria pensar em incluir algumas dessas?

 

  1. Finlândia
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Já faz tempo que a Finlândia é sinônimo de educação de qualidade. Porém, ao contrário da Coreia do Sul, o país nórdico não obriga os alunos a cursarem vários anos de ensino básico. Ao todo, são nove anos de Ensino Fundamental, o que pode ser acrescido de mais um ano extra, caso necessário. Depois disso, o nível secundário é facultativo, mas fortemente incentivado pelo Ministério da Educação e Cultura, a autoridade máxima do sistema educacional finlandês.

Mas a Finlândia também valoriza os professores, algo que o Brasil definitivamente deveria aprender. Por lá, os professores que quiserem dar aulas no Ensino Médio devem obrigatoriamente possuir mestrado. Por aqui, um curso de magistério é mais do que o suficiente. O profissional finlandês também possui bastante autonomia em suas aulas, podendo escolher a hora certa para ensinar determinada disciplina para seus alunos.

A grande maioria dos alunos frequenta escolas públicas. E aqui está outra lição importante para o Brasil: além de material escolar, os estudantes também têm direito a refeições e transporte custeados pelo governo. Existem incentivos melhores para os pais, professores e alunos?

 

  1. Japão
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O Japão é outra nação que não surpreende por figurar entre os países com os melhores sistemas educacionais. Afinal, estamos falando de um país que expõe os estudantes a, pelo menos, 13 anos de estudo em tempo praticamente integral.

A educação japonesa chama atenção por causa de seu perfil descentralizador. No Japão, o Ministério da Educação apenas acompanha à distância as decisões tomadas por cada distrito. As autoridades locais decidem os orçamentos, programas educacionais e até mesmo as disciplinas que serão ministradas e os métodos adotados, o que ainda deve ser aprovado pelo Ministério.

Lembra-se da MP que está sendo discutida aqui no Brasil? No Japão, a Lei Fundamental da Educação foi estabelecida em 1947 e está em vigor até hoje, dando grande ênfase ao conhecimento político e tolerância religiosa. Entre as disciplinas obrigatórias, podemos destacar: aritmética, estudos sociais, língua japonesa, ciências, educação moral, artes, artesanato, música, trabalho doméstico e inglês.

 

  1. Nova Zelândia
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Para fechar a nossa lista, precisamos falar da Nova Zelândia e seu sistema de ensino homogêneo em todo o país baseado na cultura do povo nativo da região. Por lá, toda a população segue praticamente o mesmo método rígido, mas extremamente eficaz para ensinar crianças e adolescentes com relação aos Maoris, os nativos desse país insular.

Os neozelandeses frequentam cerca 13 anos de escola (ensino obrigatório entre três e dezesseis anos), sendo que a maioria das instituições é pública. Como resultado, a taxa de alfabetização em adultos chega a 99% e mais da metade da população entre 15 e 29 anos já possui uma qualificação superior.

Além de o sistema educacional dar grande foco para o ensino da cultura e costumes do povo local, também há muito esforço para ensinar outras disciplinas. Alguns sistemas públicos ministram aulas sobre filosofia e religião, e oferecem muitas outras matérias optativas. Como resultado, a Nova Zelândia figura na décima posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

 

E o Brasil?

Em contraste com esses países tão bem desenvolvidos quando o assunto é educação, o Brasil ainda parece engatinhar nesse tema. A polêmica da MP 746/2016 e a recente implantação do ENEM como porta de entrada para muitas universidades mostra como o país tem batalhado para estabelecer um sistema educacional de qualidade.

Apesar disso, o Brasil ainda possui cerca de 13 milhões de analfabetos (8,3% da população), ou 27% de analfabetos funcionais (aqueles que não têm a capacidade de compreender textos simples). Com relação ao IDH, o país ocupa a 75ª posição, bem atrás de nações como a Rússia, Chile, Uruguai e Argentina, países sobre os quais o brasileiro se acha melhor. Pelo visto, realmente ainda temos um longo caminho a percorrer.

Será que o Brasil algum dia vai conseguir alcançar um posto elevado dentro da lista de nações com os melhores sistemas educacionais do mundo? Vamos torcer para que sim. Afinal, toda a população só teria a ganhar se um dia isso viesse a acontecer.