Paulo César Cavalcante Farias, mais conhecido como PC Farias, é uma figura icônica na história do Brasil. O empresário brasileiro ganhou notoriedade por diversos motivos. Além de ter atuado como chefe de campanha de Fernando Collor de Mello em 1989, o político esteve envolvido em um dos maiores escândalos políticos do país.
Esse caso de corrupção, que ficou conhecido como “Esquema PC Farias”, levou ao processo de impeachment de Collor. Porém, ao contrário do que muitos pensam, o então presidente chegou a ser afastado, mas optou pela renúncia antes de ser condenado. Farias foi acusado por Pedro Collor de Mello, irmão de Fernando, de ter sido o intermediário de crimes que movimentaram cerca de R$ 8 milhões. Esse montante, em 2015, seria o equivalente a R$ 30 milhões.
Entretanto, o que mais chama atenção em PC Farias não foram os crimes que ele cometeu em vida. A sua morte é o que faz muitos brasileiros ainda lembrarem seu nome. O político foi encontrado morto junto com sua namorada Suzana Marcolino no dia 23 de junho de 1996, na praia de Guaxuma, capital do Alagoas. Investigações iniciais apontaram que a Suzana teria cometido crime passional e matado o político. Porém, em 2013 a justiça decretou se tratar de um caso de duplo homicídio.
A morte de PC Farias
Dois mortos em uma casa vigiada por quatro seguranças. Mais de 20 anos depois do crime, ninguém foi declarado culpado. Essas duas frases resumem muito bem esse caso que foi considerado duplo homicídio em 2013 e que até hoje levanta o questionamento: quem matou PC Farias?
O político foi encontrado morto na manhã do dia 23 de junho de 1996. Os seguranças o encontraram na cama, ainda vestindo pijama, ao lado de sua namorada em uma casa de praia em Guaxuma. Cada um deles havia levado um tiro no peito. De acordo com os seguranças, os disparos não foram ouvidos por causa da época de festas juninas.
As suspeitas iniciais apontavam Suzana Marcolino como a responsável pelo crime. Ela teria comprado um revólver Rossi calibre .38 e matado PC antes de cometer suicídio. O motivo? PC Farias estava determinado em terminar o namoro. Em contraste a isso, a moça teria deixado mensagens na caixa postal do celular de um dentista em São Paulo, com quem se consultara no dia anterior. “Espero um dia rever você, nem que seja na eternidade”, teria dito.
Escândalos após a morte
Após a morte de PC Farias e sua namorada, os corpos foram examinados pelo legista Fortunato Badan Palhares. A necropsia, realizada com uma faca de cozinha, apontava para um caso de homicídio seguido de suicídio cometido por Suzana. A perícia foi igualmente falha ao identificar vestígios de pólvora na mão da suposta assassina usando água Perrier (carregada de elementos químicos) e não ter feito o mesmo com os quatro seguranças que estavam na casa. Nem mesmo o fato de não haver impressões digitais na arma foi considerado.
Portanto, o caso oficial foi registrado como uma história absurda. Depois de matar PC Farias, Suzana teria atirado contra o próprio peito, limpado o revólver, providenciado o sumiço do material usado como limpeza da arma e voltado para a cama para morrer ao lado de seu namorado. O cerco estava montado. Com um crime passional seguido de suicídio, não havia o que investigar. A esperança era o arquivamento de todos os crimes políticos cometidos por Farias até então.
Porém, o professor de medicinal legal George Sanguinetti logo desconfiou da rapidez com a qual a Justiça declarou o caso como crime passional. E um erro no laudo do legista Palhares logo confirmou as suspeitas de Sanguinetti. Palhares não teria registrado a altura de Suzana na exumação, dando a ela 1,67 m com base em uma ficha, e 1,63 m a PC Farias. O próprio legista havia escrito que, se a altura estivesse errada, todo o laudo também estaria.
Nova versão oficial
As suspeitas de Sanguinetti levaram a novas investigações e perícias. O também legista defendia que uma fratura comprovara que Suzana havia sido esganada até a morte. A diferença de altura entre PC Farias e sua namorada, associada à trajetória do disparo, invalidava ainda mais a suspeita de crime passional seguido de suicídio. As dúvidas sobre o caso cresciam cada dia mais.
O promotor Luiz Vasconcelos, que trabalhou no caso, chegou a afirmar que tinha 100% de certeza que Suzana não havia matado Paulo César. Descartada a tese inicial de crime passional, os quatro seguranças do político foram investigados e levados a júri popular em 2013. Mesmo entendendo que uma terceira pessoa matou PC Fariase os seguranças poderiam ter evitado o crime, os jurados absolveram os réus da acusação. Ou seja, mais um caso não resolvido aqui no Brasil.
Marcus Mousinho, promotor que atuou no júri, pediu a anulação do julgamento por acreditar que a decisão foi contrária às provas dos autos. Segundo ele, uma das juradas soube no confinamento que o seu marido havia recebido ameaças. Isso teria afetado a capacidade de decisão do corpo de jurados. Porém, esse recurso não foi analisado até hoje. De acordo com o promotor, o processo todo peca por não ter chegado aos autores do assassinato, embora tenham descartado a possibilidade de crime passional.
Culpa do irmão?
O Ministério Público denunciou Augusto Farias, irmão do político. A acusação alega que ele é o mandante do crime. Os quatro seguranças de PC Farias seriam aqueles que cometeram o ato em si. Testemunhas alegaram que os dois discutiam frequentemente por causa de dinheiro. Isso teria levado ao plano de morte arquitetado por Augusto e realizado pelos seguranças de PC.
O caso de Augusto Farias, porém, foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal. Assim, um dos crimes mais misteriosos do Brasil ainda continua sem culpado. Ainda mais se considerarmos que os principais suspeitos foram absolvidos pelo júri popular. Não há condenações, nem pagamento de multas ou indenizações. Somente duas mortes e um dos maiores casos de corrupção do país, que, como tantos outros, terminou em pizza.
Será que algum dia descobriremos quem foi o autor desse crime? A família de Suzana ainda tem esperanças de que o culpado seja encontrado. “O Estado brasileiro deve muito à minha família”, disse Ana Luiza Marcolino, irmã da vítima.