O que você entende quando lê a palavra “pirata”? Uma pessoa com tapa-olho e perna de pau? Um bando de marujos seguindo as ordens de um capitão com uma mão em forma de gancho? Grandes navios e uma aventura em busca de um tesouro perdido? Se essa é a sua concepção de um pirata, é melhor pensar duas vezes. Especialmente se você estiver imaginando piratas brasileiros.
A definição mais atual de um pirata passa muito longe daquela que conhecemos em filmes. “Piratas do Caribe” é um exemplo de produção que presta um desserviço ao tentar mostrar quem são essas pessoas.
Em vez de bêbados e desengonçados, os piratas podem ser um bando bastante organizado e que se une para realizar um único fim: saquear e pilhar navios e cidades. É aí que reside a única semelhança entre os piratas da ficção e os da realidade. Ambas são figuras que praticam atos ilícitos em busca do benefício próprio. E isso não é diferente com os piratas brasileiros.
O assassino do fundador de Florianópolis
O nosso primeiro pirata não tem nome. Mas ficou nacionalmente conhecido por causa de um ato cruel: o assassinato de Francisco Dias Velho, o fundador da cidade de Florianópolis. Era 1687 e, 20 anos antes, o bandeirante havia partido para povoar o sul seguindo as ordens da coroa Portuguesa.
Na região encontrou uma ilha, que a época era chamada de Nossa Senhora do Desterro. Depois de povoá-la, rebatizou a terra como Florianópolis. Na última noite de sua vida, acordou assustado ao perceber que estavam invadindo sua casa. Tentou reagir, mas apanhou. Viu sua mulher gritar e sentiu o cheiro de fumaça. Aos poucos percebeu que a vila pegava fogo. Foi levado para fora de sua casa por piratas que gritavam “A PRATA!”.
Confuso, Dias Velho foi conduzido para uma capela próxima que ele mesmo havia construído. A última coisa que ouviu foi um disparo de revólver. Ali morreu o fundador de Florianópolis. O carregamento de prata que os piratas procuravam, na verdade, havia sido enviado para a capital (São Paulo, na época). Ela havia sido deixada por outro bando que havia sido expulso por Francisco e moradores da região um ano antes.
Essa história, triste como poucas, foi eternizada por Ernesto Reis no livro “Piratas em Santa Catarina: Ataque em Florianópolis”.
Roque Brasileiro, um pirata holandês no Brasil
Um dos piratas que mais atuou na costa brasileira nem ao menos nasceu no Brasil. Roque Brasileiro, cujo nome verdadeiro é desconhecido, provavelmente nasceu na Holanda e saqueou navios e cidades por aqui entre os anos 1654 e 1671. Apesar disso, ninguém sabe ao certo sua nacionalidade e qual é a sua ligação com terras brasileiras.
A história conta que Roque Brasileiro esteve presente em terras tupiniquins durante o período de ocupação holandesa. O pirata ficou bastante conhecido por causa de sua crueldade e as atrocidades que infligia aos prisioneiros. Ele tinha especial ódio aos espanhóis, que sofreram muito nas mãos desse corsário implacável.
Contrariante a imagem de um pirata astuto, Roque Brasileiro era beberrão e adorava uma boa briga. Conta-se que ele ameaçava qualquer um que não aceitasse dividir uma bebida com ele. Registros históricos mencionam o seu desaparecimento no ano de 1671. Até hoje, ninguém sabe o que aconteceu com Roque Brasileiro e como ele morreu.
Thomas Cavendish, o corsário da costa brasileira
Outro pirata que exerceu boa parte de suas atividades na costa brasileira foi Thomas Cavendish. É verdade que o também corsário não era brasileiro, mas passou os últimos anos de sua breve vida (morreu aos 31 anos) por aqui, exercendo grande influência nas cidades por causa de seus ataques e saques constantes.
Cavendish ganhou notoriedade ao participar da dominação da Virgínia, nos Estados Unidos. Após mais algumas expedições para o Oriente, resolveu se aventurar nas águas ao sul, onde finalmente encontrou o lugar em que mais atuou em toda a sua vida. O inglês chegou a atacar Vitória, no Espírito Santo. Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Ilhabela, em São Paulo. Em Santa Catarina, queimou engenhos e fez muitos escravos pela região.
Em mais um de seus ataques à Vila de Santos e São Vicente, no Espírito Santo, viu suas tropas sofrerem grandes baixas, o que o obrigou a recuar. Ao retornar para Ilha Grande, onde estava estabelecido, foi atacado novamente e fugiu para o meio do atlântico tentando alcançar a Ilha de Santa Helena. Nessa fuga, alguns autores defendem que Cavendish morreu próxima a Pernambuco, deixando para trás o rastro de uma história de destruição e muita pirataria.
E os piratas brasileiros?
Infelizmente a literatura não registra a ação de muitos piratas de origem tupiniquim. Na época em que eles atuavam por aqui, o Brasil ainda era colônia, o que impossibilitaria chamarmos alguém que nasceu aqui de brasileiro. Os piratas que pilhavam as costas brasileiras geralmente vinham da Europa ou outras partes do globo.
Porém, hoje a história é outra. O pirata como conhecíamos não existe mais. Hoje usam armas de fogo pesadas em emboscadas para saquear navios, transatlânticos e barcos de turistas. O objetivo da pilhagem também é outro. Em vez de buscar ouro e pedras preciosas, os piratas brasileiros buscam smartphones, computadores e outros eletrônicos, além de dinheiro e joias.
Por isso, não se engane. Os piratas sempre existiram aqui no Brasil e em outras partes do mundo. Eles podem não usar tapa-olho e perna de pau, mas sempre serão perigosos e extremamente traiçoeiros. Espero que você nunca cruze um caminho de um pirata por aí.