6 mentiras usadas como pretexto para guerras

18/04/2016

As guerras são terríveis. Apesar de não termos uma ideia exata do que isso significa sem estarmos de fato vivendo uma guerra, as evidências mostram que elas representam um verdadeiro inferno na Terra. No entanto, existe a sensação de que elas são, pelo menos, travadas sob pretextos minimamente importantes: disputas territoriais, segurança nacional, assassinatos, etc.

Mas as guerras são muitas vezes iniciadas por quase nada – apenas uma pequena mentira, e tudo pode ir pelos ares (é de pessoas como você mesmo que estamos falando, George W. Bush).

Confira seis mentiras que conseguiram iniciar batalhas:

6. Hitler simulou uma invasão polonesa falsa no rádio alemão para lançar a Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial começou em 1º de Setembro de 1939, quando os nazistas invadiram a Polônia. Um dia antes, enquanto tentava justificar a invasão, Hitler espalhou uma grande quantidade de mentira em todas as ondas de rádio da Alemanha. O Fuhrer já tinha uma tara em invadir a Polônia por algum tempo, mas para isso ele tinha que convencer a população alemã que ele não era, na verdade, o mal encarnado. Então, dar início à maior guerra de todos os tempos exigiria uma boa desculpa.

É por isso que, em 31 de agosto de 1939, Alfred Naujocks, do partido nazista Sturmbannführer, junto com seis oficiais da SS disfarçados de combatentes da resistência polonesa, prendeu o agricultor polonês Franciszek Honiok, o drogou e levou-o para uma estação de rádio alemã em Gliwice, pouco mais de 6 km da fronteira polaca. Uma vez lá, os homens invadiram a estação, tirando o controle dos três engenheiros de plantão. Um oficial da SS anunciou, em polonês: “Atenção! Aqui é Gliwice. A emissora está nas mãos polonesas”, antes de um engenheiro cortar a energia da transmissão. Para o cidadão médio alemão, isso era o equivalente a uma rádio brasileira dizer, em castelhano, “ao vivo de São Paulo, aqui é a Argentina e nós invadimos tudo!”.

Antes de sair, os oficiais da SS vestiram Honiok em um uniforme do exército polonês, colocaram uma bala em sua testa e o deixaram nos degraus da estação de rádio como “prova” da “invasão polonesa”. A agência de notícias alemã respeitosamente espalhou a palavra do ataque em toda a Alemanha. Outras agências, como a BBC, pegaram a notícia e a espalharam em todo o mundo, e a Alemanha teve a sua tão esperada razão justificável para fazer o que bem entendesse com a Polônia. Como Hermann Goering, líder do Partido Nazi, disse mais tarde, durante os julgamentos de Nuremberg: “Naturalmente, as pessoas comuns não querem a guerra. Mas, afinal de contas, são os líderes do país que determinam a política, e é sempre uma simples questão de arrastar o povo. Tudo que você tem a fazer é dizer-lhes que estão sendo atacados e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e expor o país ao perigo. Isso funciona da mesma maneira em qualquer país”.

5. A Macedônia criou um elaborado enredo terrorista falso e assassinou civis para impressionar os EUA

Seis meses após o 11 de setembro, o então ministro do interior da Macedônia, Ljube Boskovski fez um grande anúncio para o mundo. Em uma batalha campal perto de Skopje, a polícia da Macedônia tinha matado sete “mujahideen”, cuja intenção era atacar americanos, britânicos e embaixadas alemãs na cidade.

Perguntas logo foram levantadas sobre a validade do relatório, no entanto, e em setembro de 2002, os detalhes imensamente perturbadores apareceram: os sete chamados terroristas eram na verdade migrantes paquistaneses e indianos, atraídos para Macedônia apenas com promessas de ajuda para imigrar para a Europa Ocidental. Depois de ser acondicionados em um belo apartamento e confortavelmente alimentados, os sete homens foram levados aos arredores de Skopje e receberam armas antes da minivan que os estava transportando arrancar. Em seguida, uma unidade especial da polícia conhecida como os Leões – que não sabiam que os homens que estavam enfrentando não eram terroristas reais – abriram fogo contra eles, atirando até 53 vezes cada.

Ljube Boskovski ganhou um lugar de destaque na lista negra dos Estados Unidos ao armar este roteiro de ficção macabro e atualmente está cumprindo pena dupla de prisão por financiamento de campanha ilegal durante uma eleição de 2011 e pelo encobrimento de um assassinato em 2001. Embora isso não seja provavelmente de grande conforto para as famílias dos sete imigrantes inocentes mortos apenas para que a Macedônia pudesse impressionar os EUA e juntar-se à chamada “guerra ao terror”.

4. Israel bombardeou seus maiores aliados para mexer com o Egito

No início dos anos 1950, os israelenses estavam preocupados que os Estados Unidos estavam se tornando excessivamente encantados com Gamal Abdel Nasser, então presidente do Egito e eventual auxílio contra os pesadelos cada vez mais vermelhos na América.

O plano de Israel era simples: explodir bombas caseiras em alvos de propriedade britânica e americana no Egito, e, em seguida, dar de ombros e apontar para o país muçulmano e/ou comunista mais próximo. Isso ostensivamente demonstraria aos americanos que Nasser não era o aliado durão que eles estavam esperando (já que ele não poderia nem mesmo manter a ordem em seu próprio país), bem como convencer os britânicos de que era uma boa ideia continuar a operar uma base militar em Suez. Em julho de 1954, agentes judeus egípcios plantaram com sucesso e detonaram explosivos em bibliotecas, estações ferroviárias e cinemas em Alexandria e no Cairo. Mas então, tudo foi por água abaixo quando, a caminho de um cinema, um artefato explodiu no bolso do agente Philip Natanson.

O agente foi preso e a rede desmantelada. O caso tem o nome do então Ministro da Defesa israelense, Pinhas Lavon, que renunciou na sequência, mesmo que mais tarde tenha se tornado evidente que o então diretor da inteligência militar israelense, Binyamin Gibli, tinha planejado a coisa toda. Oito judeus egípcios foram acusados pelos ataques, dos quais dois foram enforcados, um cometeu suicídio e outro morreu durante o interrogatório. Os enforcamentos provocaram uma incursão militar de retaliação por parte de Israel em Gaza, que resultou em 39 baixas egípcias, o que provocou um negócio de armas soviético-egípcio, e tudo funcionou como um efeito dominó horrível em direção à Crise de Suez em 1956.

Israel negou envolvimento na trama por meio século, até que, em 2005, o ex-presidente israelense Moshe Katsav apresentou os três bombardeiros sobreviventes, que tinham ganho certificados de apreço por seu serviço.

3. Rei sueco empregou alfaiate para costurar fantasias russas para os soldados suecos vestirem enquanto atacavam a própria Suécia

Em 1788, o rei Gustav III da Suécia estava enfrentando uma reputação em declínio tanto entre os políticos quanto com o povo, em parte devido aos rumores sobre sua sexualidade. De acordo com a história, Gustav pediu ao amigo Adolf Fredrik Munck para “ajudar” a consumar seu casamento com Sophia Magdalena da Dinamarca – depois de nove anos de casamento.

Felizmente para Gustav, tudo o que é preciso para elevar a reputação viril de um rei é uma boa e velha guerra. Infelizmente para Gustav, mesmo sendo rei, isso não concedia-lhe a autoridade para travar uma guerra ofensiva, graças a uma pequena coisa irritante chamada Constituição Sueca. Então, ele desenvolveu uma adorável encenação: ele pediu a um alfaiate da Royal Swedish Opera para costurar alguns uniformes militares russos convincentes, recrutou um grupo de soldados suecos para vestirem-se com os referidos uniformes, e, em seguida, ordenou-lhes a atacar um posto avançado sueco na Finlândia. Gustav alavancou a indignação que se seguiu ao exigir que Catarina, a Grande, da Rússia, devolvesse a Finlândia para a Suécia, Catherine respondeu declarando guerra à Suécia, e então Gustav teve sua desculpa para declarar uma guerra defensiva contra a Rússia. A guerra russo-sueca tinha começado.

Gustav previu uma vitória rápida contra uma marinha russa despreparada, mas falhou em perceber que a marinha russa já estava amplamente mobilizada devido às suas tensões crescentes com o Império Otomano. Como resultado, a guerra durou dois anos e custou dezenas de milhares de vidas antes de terminar com o Tratado de Varala. Pelo menos, essa guerra completamente inútil rendeu a Gustav o que ele queria desde o início: popularidade com o povo sueco. Bem, pelo menos na maior parte do tempo: em 16 de março de 1792, um capitão do exército sueco descontente aproximou-se de Gustav em um baile de máscaras da Royal Opera House e atirou em seu intestino com uma pistola com “duas bolas, cinco tiros e seis pregos dobrados”.

2. Colômbia ofereceu benefícios a soldados que matassem os rebeldes, soldados chamaram civis com problemas mentais de “rebeldes”

Desde o início dos anos 60, a Colômbia tem estado envolvida em uma guerra “de baixa intensidade”, que envolve mais lados do que um episódio de Game Of Thrones. Grupos paramilitares de direita combatem guerrilheiros socialistas, os cartéis de tráfico de drogas lutam contra quem quer que seja que não lhes dá pilhas obscenas de dinheiro em troca de pilhas obscenas de cocaína, e o governo colombiano luta uma guerra que poderia ser comparada a pastorear gatos, se os gatos fossem capazes de usar fuzis AK-47. Não é nem preciso dizer que a população estava bem cansada dessa bagunça bem antes de o conflito atingir seu ápice. Por isso, em 2002, as autoridades, agindo sob ordens do então presidente Alvaro Uribe, pensaram em uma maneira de provar e comprovar para as pessoas que eles estavam fazendo progressos: eles ofereceram promoções, prestígio, férias e outros incentivos para os militares em troca de rebeldes mortos.

Mas, apesar de todas as vantagens, há uma dificuldade inerente em matar rebeldes fortemente armados: eles estão fortemente armados. Assim, não demorou muito para os soldados corruptos perceberem que o caminho certo para ter um período de férias sem muito esforço era atrair civis inocentes – civis principalmente pobres, desempregados e com problemas mentais – com promessas de empregos, vesti-los como rebeldes e matá-los a sangue frio para inflar a contagem de corpos do exército.

Entre 2002 e 2008, mais de 3.300 pessoas inocentes foram vítimas do escândalo “falso positivo”. Para ser justo com o governo colombiano, desde que o escândalo veio à tona em 2008, os tribunais fuçaram através de milhares de casos e condenaram os envolvidos.

1. O primeiro-ministro da Prússia retirou a polidez de um telegrama e iniciou uma guerra

Às vezes, a mentira pode ser tão simples como não dizer toda a verdade, como da vez que um primeiro-ministro prussiano colocou metade da Europa em guerra simplesmente editando as cortesias comuns de um mero telegrama.

O ano era 1870. Otto Von Bismarck tinha duas coisas: um nome engraçado e um sonho. O nome é autoexplicativo; o sonho era unir os estados alemães díspares. A maneira mais eficaz de fazer isso era coletivamente expulsar a França, e a oportunidade se apresentou quando a França enviou seu embaixador, o Conde Vincent Benedetti, para falar com o rei William I da Prússia.

William enviou um telegrama para Otto Von Bismarck, informando-o da reunião e pedindo-lhe para compartilhar os detalhes com a imprensa. Mas, quando Bismarck publicou o telegrama, ele editou cada pedaço da sua linguagem rebuscada, encurtando uma quantidade de quase 200 palavras pela metade. No momento em que Bismarck terminou a edição, o telegrama começava como um insulto quase pessoal e terminava com o rei basicamente dizendo ao embaixador francês dar o fora dali e nunca mais se preocupar em voltar.

Cada lado ficou enfurecido com a grosseria do outro, e, menos de uma semana após o telegrama, a França declarou guerra à Prússia. Assim como Bismarck havia previsto, os estados alemães se uniram sob a Prússia para lutar. 750 mil mortes mais tarde, eles venceram – tudo desencadeado pela omissão de algumas amabilidades. Mas, por mais terríveis que tenham sido os meios de Bismarck, eles foram justificados pelos fins – ou seja, uma Alemanha unificada que aprendeu desde os seus primórdios violentos e nunca mais instigou outra guerra. [Cracked]

Via HypeScience