Filmar, ajudar ou apenas observar? O que fazer se há alguém em perigo?

07/08/2017

O caso recente do afogamento de um rapaz deixa todo mundo se perguntando: o que fazer quando tem uma pessoa em perigo?

Alguns jovens estavam a beira de um lago na cidade de Cocoa, na Florida, EUA, filmando o que parecia ser um afogamento.

Um dos rapazes tira sarro:

“O que é que você está fazendo aí? Vai se afogar, seu burro!”

Outro grita:

“Nem adianta que aqui ninguém vai te ajudar não!”

E de repente o silêncio:

“Caramba, ele morreu!”

A história é verdadeira. O rapaz que se foi era Jamel Dunn de 32 anos e pai de dois filhos, que precisava de uma muleta para andar. Seu corpo foi encontrado 2 dias depois. Até então familiares estavam preocupados. Não sabiam o que fazer nem por onde começar a procurar. Apelaram para as redes sociais e lá se depararam com o vídeo.

Jamel Dunn, a 32-year-old father of two, drowned in a lake July 9 as the group of teens filmed and mocked him. They later posted the horrific footage to Facebook.

O vídeo deixou todos os moradores da região do leste da Flórida bastante chocados. Mas de acordo com os promotores, os jovens, que têm entre 14 e 16 anos, não terão problemas na justiça.

Dos 50 estados americanos, apenas 10 tem lei de “dever resgatar”. E a Flórida é um desses estados, mas segundo o The Volokh Conspiracy, o “dever de resgate” se dá apenas em caso de abuso sexual .

No Brasil, o Art. 135 diz que: “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública” pode gerar uma multa ou pena de um a seis meses. Se a pessoa ferida ou inválida vi er a falecer, a pena é triplicada.

A Alemanha também tem uma lei que se refere à omissão de socorro. Quando um senhor de 82 anos teve um mal súbito dentro de um banco em Essen, nenhum dos clientes se propôs a ajuda-lo. O senhor acabou falecendo, mesmo depois que outro cliente chamou a ambulância ao entrar no banco. Os clientes que acompanharam o sofrimento do senhor estão sendo processados.

Talvez o caso mais famoso de omissão de socorro seja o da morte da Princesa Diana.

he wreckage of Princess Diana's car lies in a Paris tunnel 31 August, 1997

7 paparazzi foram acusados pela justiça francesa, de não prestar assistência à princesa, ao seu namorado, Dodi Al-Fayed e ao motorista do carro em que estavam, Henri Paul.

De acordo com as investigações, os 7 homens preferiram tirar fotos a ajudar os ocupantes do carro agonizando e suplicando pela vida.

Dois anos depois as acusações foram retiradas.

Por que não ajudar? Será que um dos motivos é o medo de serem acusadas de algo? Teoricamente ajudar é a coisa mais certa ao se fazer, correto?

Nem sempre. Na China, o medo de ser acusado de algum crime é tanto que, mesmo depois que uma criança de 2 anos foi atropelada, nada menos do que 18 pessoas a ignoraram até que a 19ª resolveu ajudar.

Wang Yue pictured on CCTV before being struck by a vehicle

A menina, que morava na cidade de Foshan, em Guangdong, faleceu dias depois criando uma comoção e uma grande discussão nas redes sociais. Discussão essa que aumentou quando uma mulher foi atingida também por um carro e ninguém a ajudou.

Nas redes sociais, essa decisão foi apoiada: “Se eu a ajudasse, chamasse a ambulância e a mandasse pro hospital, eu teria de arcar com todos os custos ou acabaria sendo espancado por seus familiares”, disse um internauta.

A inglesa Sarah Wilkinson também passou por um episódio marcante. Ela estava com esperando o ônibus com uma amiga numa tarde de dezembro.  Três garotas se aproximaram e pediram cigarro. Com a recusa de Sarah, as meninas se tornaram hostis. “Elas gritavam e nos olhavam com raiva” disse Sarah, “até que uma delas me deu um soco no rosto, empurrou minha cabeça contra a janela de vidro e colocou o cigarro na minha cara”. Havia pessoas entrando e saindo da estação, mas ninguém se prontificou em ajudá-la. Algumas até observavam a confusão, que durou 15 minutos, mas ninguém fez nada. Não conseguíamos entrar no ônibus, mas elas não deixaram. Minha amiga chorava demais, mas as três meninas diziam que, se pedíssemos ajuda, elas iriam fazer tudo de novo. A confusão parou apenas quando as meninas decidiram ir embora.

“Eu pensei que alguém fosse nos ajudar, mas todos olhavam e continuavam seu caminho. Isso me fez mudar minha opinião sobre as pessoas”, completou Sarah

Os jovens da Flórida não teriam esse problema. Todo estado americano tem a lei do “bom samaritano”, que protege aqueles que ajudam quem está em perigo e previne qualquer possibilidade de processos futuros.

Mas não se pode afirmar que os jovens pensaram nisso. Eles até citaram a possibilidade de haver jacarés e nem assim chamaram ajuda.

A porta voz da policia de Cocoa disse que nenhum dos meninos se sensibilixou com a situação e também não estavam preocupados com o que falaram. “Não houve remorso algum, apenas risadinhas maldosas”.