E se você descobrisse que há verdade por trás da série Supernatural?

19/08/2016

A série Supernatural, que já se tornou uma das mais longas da TV e que se encaminha para a 12ª temporada, narra a história dos irmãos Winchester. Sam e Dean, interpretados por Jared Padalecki e Jensen Ackles, viajam os Estados Unidos por estradas secundárias, passando por pequenas cidades e distritos em busca de solucionar casos sobrenaturais.

Até ai, tudo tranquilo e favorável. Dois irmãos, caçadores de fantasmas e demônios. A tradicional luta do bem contra o mal… Ok! Mas vamos partir para algumas análises mais aprofundadas para contextualizar que talvez isso não seja, meramente, um conto de fadas hollywoodiano.

ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!!!

Se você não conhece a série, vale assistir algumas temporadas antes de seguir com a leitura. Mas, vamos lá, se você não quer dedicar alguns meses de sua vida dissecando o Netflix, seguimos adiante.

Fique tranquilo, você verá que seu subconsciente te ajudará na maioria das referências das lendas urbanas, crenças e mitos que trataremos. Vamos a cinco tópicos que apontam para algumas verdades subliminares contidas em Supernatural:

 

1 – Supernatural tem sua principal fonte de pesquisa baseada na Bíblia Sagrada.

Como? Sim, isso mesmo. Gabriel, Zacarias, Lúcifer, Deus, Castiel, Miguel, Daniel, Salomão, são alguns dos nomes comuns da série. E sim, todos são situados em personagens para contextualizar situações profetizadas pela Bíblia.

Em Apocalipse, capítulo 1, versículos 1 e 2, está escrito: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.”

Por diversos episódios, tanto Dean quanto Sam recebem mensagens, por vias diretas e indiretas, do Céu. Não raro, os enviados de Deus os transportam, ao passado e ao futuro, para apresentar situações que podem ocorrer caso o Apocalipse bíblico não seja impedido.

Mas calma, se você não chegou sequer na terceira temporada, vai achar essa afirmação muito diferente do que já assistiu até agora. Pois bem, as três primeiras temporadas foram elaboradas a partir de lendas urbanas e referências de outras religiões. O que nos leva ao próximo tópico.

2 – As lendas urbanas continuam a se espalhar.

Se você sempre morou no Brasil e achou que a lenda da “loira do banheiro” era coisa somente da sua escola, está enganado. Nos Estados Unidos ela é retratada como “Bloody Mary”. Algo como “Maria Sangrenta”.

Bem, logo no #5 episódio da 1ª temporada, a lenda é vivenciada pelos irmãos Winchester, quando um homem morre em frente ao espelho de seu banheiro, com os olhos parecendo que foram diluídos.

A lenda, aparentemente, vem do folclore ocidental e possui diversas variações. Mas, basicamente, segue a proposta de se repetir uma frase, ou um nome, em frente a um espelho por algumas vezes (uns dizem ser “Bloody Mary”, outros “Loira do Banheiro”, outros “eu matei seu bebê”).

A referência está baseada na história da filha do rei Henrique VIII da Inglaterra com a sua primeira esposa Catarina de Aragão, Maria I da Inglaterra. Catarina havia tido oito abortos até vir Maria I. Maria, por sua vez, foi uma tirana na perseguição e execução de protestantes ingleses e, por isso, ficou conhecida como “Maria Sangrenta”. Depois de se casar, e com o desejo de ter um sucessor, acabou tendo uma gravidez psicológica que, naturalmente, não resultou em filhos. Ela teria virado motivo de chacota pelo reinado após o fato.

Outra lenda muito comum, especialmente, em regiões mais próximas de matas é a de estranhos desaparecimentos de pessoas. No episódio #2, também da 1ª temporada, Sam e Dean estão em busca do pai e acabam se vendo no meio de uma floresta do Colorado, onde uma criatura com aspectos animalescos captura e devora pessoas. No desenrolar da trama, os irmãos Winchester descobrem que estão lhe dando com uma criatura de ancestralidade humana, mas animalesca, cujo o canibalismo passou a lhe proporcionar força e velocidade.

Neste caso, a referência está vinculada a lenda indígena da América do Norte, Wendigo. A lenda diz que depois de uma pessoa ter passado fome por muito tempo perdida em uma floresta durante o inverno, ela acabou se alimentando dos amigos que morreram. O canibalismo, que, em tese, teria se perpetuado, a transformou em uma criatura horrenda que alimenta de carne humana para manter sua imortalidade.

Já para nós, brasileiros, a lenda de Wendigo se assemelha muito com a de Curupira. É isso mesmo! Esqueça tudo aquilo que você aprendeu no jardim de infância ou com a sua queria Vovó. O protetor das florestas, segundo sua referência original, é um demônio cruel. Descrito como um pequeno índio de pés virados para trás, sua primeira referência data de maio de 1560, em uma carta escrita pelo padre Anchieta, conhecido como “Apóstolo do Brasil”, à Europa: “(…) É coisa sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios a quem os brasis chamam de Corupiras, que acometem aos índios muitas vezes, no mato, dão-lhes de açoites, machucam e matam. São testemunhas disso alguns de nossos irmãos que viram, algumas vezes, os mortos por eles.”

 

As referências extraídas de lendas urbanas ao longo de dezenas de episódios da série são gigantescas. Todas elas, sem exceção, foram atualizadas com contextos mais históricos, a partir de pesquisas minuciosas realizadas por seus produtores. Entre outras que vocês vão encontrar, estão: mortos vivos, lobisomens, vampiros, espíritos vingativos, ceifeiros, anjos, e, claro, muitos demônios. Aliás, esse é o assunto do próximo tópico.

 

3 – Os demônios são realmente maus?

A primeira coisa que você vai perceber assistindo Supernatural é que a linha entre o bem e o mal é sempre muito tênue. Ora os mocinhos seguem um caminho totalmente aceitável, e que, praticamente, todo e qualquer pessoa “de bem” faria o mesmo. De repente, uma reviravolta nos acontecimentos e os irmãos Winchester percebem que estavam completamente errados. Na grande maioria das vezes, essa condução do roteiro, nem sempre criativo (sim, você vai perceber em alguns casos muito “lenga, lenga”), está intimamente ligado com a trama que se é estabelecida com os demônios.

É importante ponderar que, assim como no Céu os anjos obedecem certa hierarquia (Arcanjo, Anjos, Querubins etc.), o Inferno segue a mesma regra.

O exército do Inferno é composto pelos “Anjos Caídos”, que renunciaram às imposições de Deus. E, basicamente, ele está dividido na hierarquia do mal: reinos, principados, domínios e outros. Seus nomes variam a partir de crenças e religiões, mas tendem a seguir a mesma lógica. Abaixo, algumas referências hierárquicas, conforme a Bíblia, que são citados na série:

  • Lúcifer, que paradoxalmente significa a “luz da manhã”, é o rei supremo do Inferno. Ex-arcanjo de Deus, que teria se rebelado contra as vontades de seu pai. Segundo as profecias da Bíblia, é Lúcifer que liderará a rebelião dos anjos contra o Céu. Na série, não é diferente;
  • Leviatã é o príncipe dos demônios. Segundo referências bíblicas, seu domínio é a heresia. Na literatura hebraica, Leviatã aparece no livro de Salmos sendo citado, ora como grande animal marinho, ora como um dragão. A tradução do hebraico seria algo como “animal que se enrosca”. Não por menos, em Supernatural ele aparece como criaturas que se apropriam de corpos. Eles teriam sido libertados do Purgatório, local criado por Deus, na série, para trancafiar as mais demoníacas entidades;
  • Azazyel é o “anjo caído” que ensinou os homens a forjarem espadas, facas e armaduras. Azazyel tem uma simbologia muito forte quando o assunto é Apocalipse. Segundo a Bíblia, ele teria desafiado Miguel e Gabriel, arcanjos do Senhor, e, após a derrota, foi subjugado por Rafael. Em Supernatural, o personagem tem uma variação nominal, chamando-se Azazel, que ficou conhecido como o “demônio do olho amarelo”. Ele é o principal personagem que dá início ao fim do mundo na série. Como? Bom, vale a pena assistir. Mas vai a receita como dica: um pouco de sangue na boquinha, dois irmãos e alguns demônios!
  • Claro, depois de diversos príncipes do reino da escuridão, chegamos a base da cadeia, os demônios. Eles também são “anjos caídos”, mas considerados iníquos e por isso precisam praticar o trabalho “sujo”, circulando entre o mundo dos vivos para proporcionar o caos. Os demônios não podem ser mortos, somente expulsos a partir de diversos rituais específicos. Sequer Deus eliminou um só demônio, segundo referências Bíblicas. Na série eles aparecem aos montes, sempre com os olhos “negros” para situar o expectador.

 

Até aqui, aparentemente, o mal é mesmo mal. Certo? Bem, vejamos. Em Supernatural, há um diálogo muito interessante entre Lúcifer e os irmãos Winchester. Ele sugere que foi expulso do Céu porque não aceitava a hierarquia imposta por Deus. Para Lúcifer, abaixo de Deus, todos os irmãos deveriam ser iguais. Veja que Lúcifer era um arcanjo – mais alto grau de poder celestial. Ou seja, teoricamente, ele queria que seus irmãos tivessem o mesmo poder que ele.

Posteriormente, Sam se aproxima de Ruby, um demônio que parece ajuda-los em diversas caçadas. É Ruby que incentiva Sam a beber sangue de demônio – você entenderá o porquê quando assistir. Em diversos diálogos entre o casal fica claro que os demônios têm tanto medo dos anjos quanto os seres-humanos têm medo das trevas. Nas profecias bíblicas, o Céu é quem perseguirá os demônios e, depois do Apocalipse, haverá somente paz. A questão é: o que será feito com os demônios a partir deste ponto, que a profecia não traz mais nenhuma revelação?

Lúcifer, para os demônios, seria a única salvação para continuarem “vivos”. Este, talvez, seja um dos maiores motes da série. Tentar descobrir quem realmente é bom. E, pior, tentar descobrir a quem recorrer.

 

4 – Um simples ritual exorcista?

Sem dúvidas, o que você vai mais ouvir na série é o latim. Sim, porque para expulsar as dezenas de demônios que surgem pelo caminho é uma tarefa complexa, mas não impossível, quando se tem o livro Rituale Romanum à mão.

Rituale Romanum, que significa ritual romano em latim, é um livro litúrgico de 1614, produzido no papado de Paulo V. Além de diversos rituais geralmente administrados por padres (batismos, casamentos, eucaristia etc.), constam os encaminhamentos do exorcismo de pessoas, casas e outros lugares possuídos por demônios.

O ritual permaneceu inalterado até 1952, quando a Igreja Católica ajustou o conteúdo relacional ao exorcismo.

São tantas vezes repetidos o ritual que os protagonistas da série decoram o texto para facilitar o trabalho:

Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica… Ergo… Perditionis venenum propinare. Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciae. Hostis humanae salutis. Humiliare sub potenti manu dei. Contremisce et effuge. Invocato a nobis sancto et terribile nomine. uem inferi tremunt… Ab insidis diaboli, libera nos, domine. Ut ecclesiam tuam secura tibi facias, libertate servire, te rogamus, audi nos.

5 – Presença fundamental da simbologia

Em qualquer crença, a simbologia se torna peça fundamental para atrair seguidores ou mesmo estabelecer métricas. Supernatural segue esse princípio com o mesmo esmero do embasamento teológico, de diversas religiões e crenças, assim como as lendas urbanas contextualizadas em seus episódios.

Aqui, duas referências fundamentais contidas na série.

A Chave de Salomão, que além de ser um símbolo, foi um livro atribuído ao bíblico Rei Salomão, que apresenta conhecimentos mágicos. Alguns questionam que sua origem veio da Idade Média. Nele contem 36 pantáculos (símbolos que possuem um significado de natureza mágica ou esotérica) que sugerem conexões entre o plano físico e os planos sutis.

Em Supernatural, o símbolo que está presente ao longo livro é desenhado em superfícies para aprisionar demônios. O feitiço é quebrado quando o círculo é interrompido (apagando parte do desenho).

Muitas vezes diversas religiosos, no calor de sua devoção acabam por utilizar, o que se chama, de “Oração em Línguas”. Para um leigo e descrente, uma série de palavras desconexas. A maioria defende que essa seria a confirmação da presença do Espírito Santo entre o seu rebanho. Contudo, em Supernatural, as “línguas” são prontamente relacionadas ao enoquiano.

Enoquiano, seria, segundo diversos pesquisadores, a língua dos anjos. Ela foi criada por John Dee e Edward Kelley no final do século XVI. A linguagem enoquiano é refutada por muitos como uma variação grosseira do inglês arcaico.

Se é ou não a língua dos anjos, não há como afirmar.

 

Conclusão

É claro que boa parte dos roteiros de Supernatural estão pautados a partir de crenças populares, seitas diversas, lendas urbanas, diferentes religiões. E, sim, elas não foram comprovadas cientificamente.

No entanto, a proposta com este texto foi detalhar algumas dessas referências a partir de suas origens históricas.

Como a série ainda segue em produção, reza a lenda que seus produtores deverão ressuscitar Hitler em sua 11ª temporada. É o mal estando cada vez mais perto do bem. Ou seria o inverso?