Competências nobres e Competências medíocres. Talentos Nobres e Talentos Medíocres.

18/07/2012

Nessa nova fase do blog vou começar a liberar o material que tinha classificado como “impróprio” pelo seu conteúdo ser mais “ácido” que o normal.

Vou opinar sobre algo que me incomoda há muito tempo e o qual vocês já me viram bater na tecla por aqui diversas vezes: a meritocracia. Contudo, não irei falar dela em si, mas de uma de suas bases – o reconhecimento por competências -, a qual nenhuma das civilizações da História teve bom senso ao construir e talvez por isso estejamos vivenciando essa (perdão da palavra) merda de sociedade atual.

Competências são, segundo a visão da Psicologia, traços de personalidade que permitem ao indivíduo atingir determinada realização ou desempenho. Provém da construção do ser, do seu aperfeiçoamento como pessoa para realizar determinada tarefa, diferentemente do talento, que por sua vez, se tem desde o nascimento e não pode ser modificado pelo aprendizado.

Adquirir uma competência geralmente exige algum tipo de esforço. Para ser competente em certa ação, normalmente o individuo atravessa algum treinamento ou estudo. Entretanto, nem toda competência, assim como, nem todo o talento, dom ou seja qual for a qualidade atribuída à pessoa, é de fato útil. Esse ultimo é um dos pontos que me incomoda muito, pois, no mundo idiota em que vivemos, parece que quanto mais inútil for essas virtudes, aptidões, entre outros “ões”, mais significativa ela se torna à uma cultura e para a sociedade.

Acho que para iniciar a mudança desse estágio para um nível mais avançado de consciência nós deveríamos hierarquizar nossas competências e talentos, de maneira que o reconhecimento e a valia fossem proporcional ao retorno que esses(as) trariam para o verdadeiro bem comum e por sua utilidade. Desse modo, teríamos competências nobres e competências medíocres, assim como, talentos nobres e talentos medíocres, cada qual com seu reconhecimento e valia aumentados ou diminuídos, de acordo com sua importância social. Isso faria com que os próprios indivíduos que compõe a sociedade incentivassem o ato que trouxesse o bem comum e diminuísse tudo que fosse inútil e individual.

Para ilustrar o que estou tentando apresentar, vou dar alguns exemplos, para você perceber a diferença entre algo “nobre” e algo “medíocre”, mas primeiro peço que o leitor se desfaça das ilusões e se atenha no “real”:

A matemática é um exemplo de competência/talento nobre. Com a matemática se constrói prédios, carros, computadores, entre outras tecnologias que vão facilitar a vida de todos. Do contrário, a competência/talento musical traz apenas retorno ilusório às pessoas. A felicidade que as pessoas sentem ao escutar uma música vem somente do seu intimo e gosto, que varia muito de humano para humano e não é necessária para nossa sobrevivência ou mesmo, insere um fator agregador, visto que, estilos musicais são e sempre foram motivos para discussões e segregação (ex. “Rock melhor que funk”, “Funk melhor que Rock”). Logo, uma competência medíocre, do ponto de vista do bem social! Mas o que ocorre em nossa sociedade atual? Um cientista é desvalorizado, embora ele trabalhe em prol de uma melhoria que trará benefícios para todos. Já um músico, que em nada muda a situação social, é aclamado, idolatrado, sendo que o mesmo é o único que realmente recebe retorno pelo trabalho desenvolvido. Do mesmo modo, temos os “atletas”, que nada fazem por uma sociedade e recebem um reconhecimento e retorno financeiro descabido. Você não vê o mesmo comportamento sendo aplicado à professores, juízes, médicos, bombeiros, ou qualquer outro membro que forma as engrenagens da sociedade e que realmente fazem algo significativo por ela.

O motivo para esse comportamento, de desmerecer o que é útil e idolatrar o que é inútil é Histórico. Na Antiga Roma, mantinham o povo alimentado e sempre distraído com os Esportes, uma estratégia conhecida por nós como “pão e circo” para evitar revoltas populares. Uma pessoa distraída tão pouco dá importância para os problemas que tomam a sociedade, postura que dá uma certa folga aos governantes. Hoje, a mesma prática ainda continua, porém, tem outros focos: além da distração, o “circo” é usado para movimentar a Economia. Por isso, os Esportes são valorizados: eles movimentam muito dinheiro!

Do contrário, um cientista engajado que trabalha em função do bem-estar social ou um professor que quer levar a Educação aos cantos mais inalcançáveis possíveis recebem a repreensão. Isso acaba ocorrendo porque nesse caso não existe movimento da Economia e mesmo, pode atrapalha-la. Por exemplo, imagine um cientista que invente um substituto para o petróleo, que seja tão barato de fabricar que seria uma fonte de energia praticamente gratuita….tal invenção terminaria por ameaçar a Economia e por isso, muitos desses cientistas antes mesmo de iniciarem suas pesquisas já são chamados de “loucos”.

É triste perceber que essa idéia já está tão enraizada que as pessoas sequer conseguem perceber a diferença, por exemplo, entre um cientista e um músico para sociedade. Muitos acham mesmo que pessoas como Cazuza e Ivete Sangalo realmente fizeram algo significativo para nossa nação. E digo mais: esses, geralmente, sequer sabem quem foi Carlos Chagas ou Vital Brazil, ou ainda, César Lattes.

Uma parábola que uso para tentar explicar para as pessoas o meu ponto de vista e talvez ajude você leitor, caso ainda não tenha captado a mensagem, é a seguinte: Imagine um mundo sem músicos e atletas. O que perderíamos e o que mudaria? Não precisamos de Músicos para fazer Música, tão pouco precisamos de “Atletas” para praticar Esportes! E mesmo que eliminássemos esses dois itens, o que mudaria? Pois bem, agora imagine o mundo sem médicos, juízes, bombeiros, policiais, engenheiros, cientistas, professores, jornalistas…. é, o que conhecemos hoje como “ordem” seria substituído pelo “caos infernal”. Esses profissionais são peças insubstituíveis para nossa sociedade atual. Tire um deles e você gera a desordem. Nós só chegamos ao estágio atual da evolução porque eles surgiram nessa caminhada. Eles possuem “competências” que verdadeiramente são uteis ao meio social, não precisam se apoiar em mentiras e visões distorcidas da realidade para que seu trabalho ganhe valor.

Por fim, não vou encerrar o texto com uma conclusão. Deixo a pergunta à você, leitor, e a idéia aberta para discussão: Qual a sua opinião sobre o assunto e se você concorda que um mundo aonde o mérito fosse dado aqueles que desempenham funções uteis ao bem comum seria um mundo melhor?