Os mistérios da Xenoglossia e o caso da Íris Farczády

16/01/2015
Os mistérios da Xenoglossia e o caso da Íris Farczády

O tema de hoje é polêmico e apesar de muitos ainda o consideram mistério, outros encontram explicações para este fenômeno. A sugestão deste post foi dada pelo leitor Rafael Yoshikage, e você também pode sugerir um tema em nossa página no Facebook.

Bem, eu já mencionei algumas vezes aqui que sou evangélico e é claro que tenho minhas convicções de fé, no entanto serei imparcial no post de hoje para que conheçamos um pouco mais sobre este, que para alguns possa ser mistério e para outros apenas uma manifestação comportamental.

Antes de entrar na explanação da Xenoglossia, eu vou compartilhar o caso da garota húngara Íris Farczády.

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Em 1989, o Dr. Hubert Larcher, antigo Diretor do Instituto Internacional de Metapsíquica (IMI) em Paris, relatou num artigo um caso há muito esquecido de uma aparente possessão, envolvendo uma garota Húngara de boa criação chamada Iris Farczády, que em agosto de 1933, com a idade de 16 anos subitamente passou por uma mudança drástica de personalidade. Ela que sempre havia se interessado extensivamente pela mediunidade alegava agora ser Lúcia renascida, uma trabalhadora espanhola de 41 anos que havia morrido no início daquele ano.

A nova personalidade alegava ser uma trabalhadora espanhola de nome Lúcia Altarez de Salvio e que ela havia morrido três meses antes, em Madrid, tendo deixado para trás o viúvo e os sobreviventes de seus 14 filhos.

O aspecto mais espantoso do caso é que a garota que havia assumido falava espanhol fluentemente e não entendia mais húngaro nem alemão.

O caso foi escrito em 1935 por Karl Röthy, um pesquisador húngaro-alemão que concluiu, após várias investigações, que Iris nunca tinha estudado espanhol nem se associado com nenhuma pessoa que soubesse este idioma.

Lúcia tem estado no controle desde então, e agora com a idade de 86 anos, considera que Íris foi uma pessoa diferente, a qual cessou sua existência em 1933.

Apesar do aspecto reencarnatório do caso não ser apoiado por provas, ainda resta o mistério de como Iris adquiriu o seu conhecimento da linguagem espanhola, dos costumes e da cultura popular, e porque Iris deveria ter querido ou se submetido a uma “substituição” por Lúcia.

O caso de Iris Farczády pode se enquadrar dentro de uma grande classe de fenômenos que caem na classificação geral de ‘mudança de personalidade’.

O espiritismo afirma que durante o transe mediúnico, a troca da identidade do médium pela identidade do ‘comunicador’ que alega ter sobrevivido à morte, é muito familiar, mas a substituição total (aparente) da personalidade do anfitrião pela personalidade do ‘convidado’ pelo resto da vida do primeiro, que parece ser o que ocorreu no caso aqui apresentado, pode ser única.

Seja este o caso de possessão ou mudança de personalidade, há quem explique o caso de Íris falar uma nova língua através da Xenoglossia, que é o assunto que vou transcrever a seguir.

O que é Xenoglossia

A xenoglossia tem origem em duas palavras gregas: “xenón”, “estranho, estrangeiro” e “glóssa”, “idioma”. É um suposto fenômeno psíquico no qual uma pessoa seria capaz de falar idiomas que nunca aprendeu, como, por exemplo, uma pessoa começar a falar alemão fluentemente sem nunca ter aprendido alemão, ser alemão ou conviver com alemães. Já no meio religioso seria conhecido como o dom de falar “a língua dos anjos e dos santos”.

O termo “xenoglossia” foi criado por Charles Robert Richet para identificar o fenômeno no qual pessoas falam em línguas que eles e, geralmente, o público presente ignoram, porém se tratam de línguas existentes hoje ou que existiram no passado. Em um de seus trabalhos escritos, Sigmund Freud chega a falar que tratou de uma paciente que deixara de falar sua língua materna, o alemão, e o esquecera completamente, passando a falar somente em inglês. Entretanto, esta paciente em questão já tinha conhecimento do inglês em sua vida cotidiana.

O “dom de línguas” no Cristianismo

Diz o livro bíblico dos Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento, no capítulo 2, versículos 1 ao 4, que no dia de Pentecostes (cinquenta dias depois da Páscoa), dez dias antes de Jesus ascender ao céu, os onze apóstolos restantes, além de Matias, estavam reunidos num cenáculo quando, de repente, veio um vento forte e línguas de fogo pousaram sobre eles e então ficaram todos cheios do Espírito Santo, começando a falar em outras línguas, conforme o mesmo Espírito lhes concedia que falassem. De acordo com os teólogos, nascia aí o Cristianismo e a manifestação do fenômeno da xenoglossia nele, fenômeno este que viria a se repetir em outras ocasiões durante os primeiros séculos de existência da nova religião, mas que seria quase esquecido ao longo dos séculos, tendo sido, entretanto, visto como frequente na história de alguns santos e outras pessoas.

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Hoje em dia, devido ao surgimento dos movimentos pentecostais, nos protestantes (pentecostalismo), não há a manifestação desse fenômeno, e sim o da glossolalia, que é totalmente distinto do que ocorreu em Pentecostes.

No Cristianismo, glossolalia religiosa (ou dom de línguas) é narrada pela primeira vez no livro dos Atos dos Apóstolos, que descreve o evento ocorrido no dia de Pentecostes, uma data em que judeus de várias partes do mundo se reuniam em Jerusalém. Os judeus de todo mundo antigo em visita a Jerusalém se maravilharam por conseguir ouvir a mensagem em sua própria língua ou dialeto. Sinal similar ocorreu na casa de Cornélio, um oficial romano. Antes disso, o apóstolo Pedro teve uma visão de que não deveriam ser recusados aqueles a quem Deus purificasse, independentemente da origem. Este sinal se mostra com propósito inverso ao ocorrido na construção da Torre de Babel. O fenômeno é descrito na carta de Paulo aos coríntios como sendo um dos dons oferecidos pelo Espírito Santo.

A igreja católica não nega existir o dom de línguas, como foi afirmado por São Paulo na carta aos coríntios, testemunhado pelos apóstolos, mesmo que a manifestação deste carisma seja de certo modo incomum a muitos fiéis. A atual prática, inserida expressivamente dentro da Renovação Carismática Católica, não é estranha ao ensinamento da Igreja, já que a mesma tem conhecimento e aprovação de todos os estatutos do movimento eclesial, que inclusive tem seu escritório internacional no Vaticano.

O fenômeno ocorrido durante o Pentecostes pode ser entendido também como xenoglossia (uma oração em língua desconhecida de quem ora, mas que existe ou já existiu e ainda é do domínio humano), uma vez que os povos de todas as nações encontravam-se em Jerusalém e ouviam os apóstolos anunciarem as maravilhas de Deus no seu próprio idioma. Já a glossolalia é um fenômeno que se deu, sobretudo, na comunidade cristã de Corinto, mas também nas de Cesareia e Éfeso; não é a mesma coisa que o “falar outras línguas” (o milagre de Pentecostes), mas consistia nisso que a pessoa proferia sons ininteligíveis e palavras sem nexo, que se tornavam compreensíveis apenas para quem possuía o carisma da interpretação.

Quanto à tonalidade, a oração em línguas normalmente se apresenta como: Louvor (oração sequenciada, de palavreado frequente, onde a pessoa fica “mergulhada” como criança diante de Deus), Júbilo (oração transbordante, jubilosa e extremamente alegre, quase interminável e sem pausas), Súplica (oração compassada e em tonalidade penitencial, que leva a frutos de contrição), Canto (é também uma espécie de louvor, sendo que em tonalidade musical). O dom das línguas foi um dom abundante no início da Igreja. É normal um católico exercê-lo. Ele traz muitos frutos para a vida de oração e de santificação pessoal, favorecendo a intimidade e a comunhão com Deus.

No protestantismo, a glossolalia, conhecida como dom de línguas (ou, simplesmente, falar em línguas), é admitida pelas correntes pentecostais e neopentecostais. As demais igrejas, tidas como históricas ou tradicionais, majoritariamente refutam a manifestação contemporânea da glossolalia. Ou seja, para as igrejas históricas, o fenômeno foi um milagre de Deus inédito somente na Bíblia e que nunca mais voltou a acontecer.

O fenômeno em outras religiões não cristãs

Antes do cristianismo, diversos grupos religiosos praticavam formas de glossolalia. No Oráculo de Delfos, a sibila (sacerdotisa do deus Apolo) falava com estranhos sons que se supunham ser mensagens do deus. Alguns textos gnósticos do período do Império Romano possuem fórmulas silábicas como “t t t t t t t t n n n n n n n n n d d d d d d d…” etc. Crê-se que tais seriam transliterações de sons feitos por glossolalia.

Atualmente, religiões como o espiritismo apresentam fenômenos semelhantes, incluindo manifestações de xenoglossia. Fenômenos de glossolalia são observados também no xamanismo, no vodu haitiano, em alguns grupos judaicos hassídicos e entre os sufi muçulmanos.

A interpretação da ciência para esses casos

Nos anos 70, o fenômeno atraiu a comunidade acadêmica, com estudos publicados pela antropóloga Felicitas Goldman e pelo linguista William Samarin. Goldman descreveu a ocorrência da glossolalia em situações distintas e Samarin considerou a glossolalia não constituía uma língua per se nos parâmetros conhecidos da ciência linguística. Uma pesquisa publicada em 2006 pela Universidade da Pensilvânia descobriu que quando um indivíduo produz glossolalia, a área do cérebro que controla a linguagem não é ativa, assim não possui controle sobre o sujeito. O fenômeno ainda está a ser estudado e desperta a curiosidade da ciência e do público familiar com a prática.

Isso afirmaria que o “dom de línguas” seria algo sobrenatural, realmente, e que as pesquisas comprovaram isso? De modo algum. O que a pesquisa de 2006 mostrou é que durante o período que o indivíduo fala as tais “línguas estranhas” não há preocupação em formar sentido, coesão, textualidade – como fazemos quando falamos e conversamos normalmente – mas sim a “preocupação” em reproduzir sons em um estado de possível inconsciência.

Através de inúmeros estudos realizados pela parapsicologia, tem se chegado à conclusão que o fenômeno da glossolalia ou xenoglossia pode ser resultado das faculdades humanas, visto que podem ser induzidos através de hipnose, euforia ou transe – até mesmo fora de ambientes religiosos, cristãos ou não. Os linguistas concordam que a esmagadora maioria dos fenômenos gravados e analisados não apresenta um número suficiente de características de uma língua para serem aceitos como tais.

Uma das situações mais delicadas que aparecem nos círculos religiosos que trabalham com os fenômenos da xenoglossia ou da glossolalia é a fraude. Muitos missioneiros usam da má fé para serem reconhecidos em seus círculos, uma vez que o “poder” de falar a língua das suas entidades daria status dentro daquele grupo. De acordo com linguistas da Universidade da Califórnia, em pesquisa divulgada em 2008, mostrou que havia certa fraude nesses fenômenos em 67% dos casos analisados; isso mostraria que não é tão fácil assim como parece ser obter o “dom de línguas” e o dom de sua interpretação. Entretanto, é digno que a pesquisa não mostrou serem inexistentes a xenoglossia e a glossolalia.

Ian Stevenson, que chefiou o Departamento de Psiquiatria e Ciências Neurocomportamentais da Universidade da Virgínia, lançou o livro “Xenoglossia: novos estudos científicos”, cuja sinopse é: “Xenoglossia é nome que se dá ao fenômeno parapsíquico em que uma pessoa consegue falar em idiomas que nunca aprendeu ou sequer teve contato. Conhecido internacionalmente por suas pesquisas sobre reencarnação, o renomado psiquiatra canadense Ian Stevenson registra com rigor científico dois casos de xenoglossia, que comprovam a reencarnação. O primeiro caso envolve uma mulher que começa a falar em alemão, sem nenhum conhecimento prévio do idioma, identificando-se com outra personalidade. O segundo caso envolve uma jovem indiana, que em uma clínica de tratamento apresenta uma nova personalidade, falando em bengali, idioma com o qual nunca teve contato”.

O neurologista e psiquiatra Brian Weiss, conta em seu livro “Muitos corpos, uma só alma”, que aplicando a terapia de vidas passadas em pacientes, ele viu que alguns deles expressaram xenoglossia, o que segundo ele é uma prova extraordinária de que esses pacientes realmente estavam lembrando-se de uma vida passada deles.

Fontes Fato e Farsa! | Luz Espírita