Entenda o polêmico jogo da Baleia Azul e por que isso está levando a morte de pessoas

19/04/2017

Se você não esteve vivendo dentro de uma caverna nos últimos dias, é muito provável que você já tenha ouvido falar em um tal de jogo da “Baleia Azul”. Nos noticiários, esse “desafio” tem sido considerado o responsável por diversos suicídios em todo o mundo, com reflexos negativos até mesmo aqui no Brasil.

Neste artigo, vamos explorar as origens desse jogo aparentemente demoníaco e compreender o que são os desafios propostos a quem se habilita a participar da “brincadeira”. Vale ressaltar que o blog Ah Duvido está criando esta matéria com o intuito de informar e não incentivar a prática do que é proposto por esse jogo. Destacamos o alerta aos pais que devem sempre observar o comportamento de seus filhos para entender se eles não estão se envolvendo em atividades que podem colocar em risco a sua vida e de outras pessoas.

A origem do jogo “Baleia Azul”

Como diversas histórias que nasceram ou cresceram na internet, não é possível apontar exatamente todos os seus fatos como verdadeiros. O mesmo podemos dizer sobre a origem do jogo “Baleia Azul”, que possui um pano de fundo por trás, mas que pode muito bem ser apenas isso mesmo: um pano de fundo.

De acordo com a história mais aceita entre os jornalistas e especialistas que investigam o assunto, o jogo da Baleia Azul (Blue Whale, em inglês) teve início na Rússia entre os anos de 2015 e 2016. Tudo começou com uma menina chamada Rina Palenkova. Ela teria se matado se jogando na frente de um trem.

A história começa com essa menina pois momentos antes de ela se matar ela publicou em suas redes sociais um simples “adeus”. Isso mostrou que o suicídio estava premeditado e que poderia haver algo por trás de tudo isso. Essa é uma história bastante triste. Porém, como muitos devem imaginar, a repercussão da internet acabou transformando todo o caso em um meme. Várias montagens de mal gosto também acabaram surgindo, o que tirou a atenção para o verdadeiro problema do caso.

Porém, algumas pessoas começaram a prestar mais atenção nesse caso e decidiram investigar a vida da menina tentar entender porque ela cometeu suicídio. O diagnóstico de depressão é outra causa que precisava ser investigada em Rina Palenkova. Essas pessoas começaram a visitar e entender o comportamento da menina nas redes sociais e fizeram descobertas incríveis.

Os responsáveis pelo jogo

Depois que todo esse assunto atingiu o seu auge, em março de 2016, um jornal russo fez uma reportagem que conta um pouco sobre a existência de “grupos de morte” nas redes sociais. O cerco estava armado e a investigação se aprofundou ainda mais para tentar entender porque Rina havia cometido suicídio.

Dentro dessas comunidades, um jogo era bastante conhecido. Batizado de “Wake Me Up At 4:20” (“Me Acorde Às 4:20”, em tradução livre), esse era um desafio que colocava os participantes para fazerem uma série de desafios. De acordo com especialistas, o horário era o mais propício para aqueles que estavam planejando cometer um suicídio.

O jogo também era conhecido em outros lugares como Blue Whale, ou a agora tão conhecida Baleia Azul. O mesmo jornal relatou que o jogo encarava Rina como uma espécie de símbolo, a pessoa que teria dado início a toda essa brincadeira de mal gosto. Há quem diga que o jogo foi inspirado em um livro chamado “50 Dias Antes do Meu Suicídio”, mas nada ainda foi comprovado.

A notícia se espalhou tão rápido que muitas outras pessoas começaram a investigar o caso para entender o que estava acontecendo. Relatos apontavam para outros suicídios que também estariam conectados a esse jogo da Baleia Azul. As investigações acabaram encontrando muitas outras comunidades de morte e assim tudo começou a fazer um pouco mais de sentido.

Mais grupos de morte

Um dos grupos de morte mais conhecidos usavam a hashtag #F57. Trata-se de um lugar cheio de informações a respeito de suicídio e automutilações. Nesse grupo haviam várias publicações misteriosas, mas sempre fazendo referência ao jogo Blue Whale ou sempre usando a famosa hashtag deles. Até mesmo a imagem da baleia era usada.

Até o momento, todo o caso poderia ser encarado como uma “história de internet”. Ninguém ainda se importava muito com o assunto até o momento em que uma lista com o nome de pessoas que teriam morrido por causa do jogo havia sido liberada. A partir desse momento, as investigações ficaram ainda mais sérias. Afinal, não tínhamos mais apenas números, mas nomes ligados a essa prática que estava levando crianças e adolescentes a cometerem suicídio.

Depois disso, não demorou muito para que muitos países começassem a colocar investigações para entender exatamente quem estava por trás de todos esses casos. Em outubro de 2016, um jovem chamado Filip Budeikin, também conhecido como “The Fox”, foi preso por supostamente ser um dos administradores dos grupos. Esses grupos teriam sido os responsáveis por pelo menos 15 mortes.

Porém, o jovem era astuto e desmentiu tudo. Na verdade, ele alegou que estava no grupo para desencorajar os jovens que estavam dentro do jogo. No final das contas, ele acabou não recebendo punição alguma e não foi considerado o responsável pelos suicídios que aconteceram em diversos países.

Casos em 2017

No começo de 2017, várias publicações russas voltaram com esse assunto à tona, o que também despertou a atenção de crianças e adolescentes. O jogo da Baleia Azul que não era tão conhecido assim acabou viralizando e envolvendo mais pessoas do que os seus criadores realmente “pretendiam”. E tudo isso por causa de uma grande mentira.

Através do Facebook, um texto supostamente escrito pela polícia para as escolas começou a circular. As escolas, por sua vez, desesperadas por causa das possíveis implicações do caso, começaram a alardear com os pais sobre os perigos do desafio da Baleia Azul, o que acabou servindo como um convite para cada vez mais pessoas pesquisarem sobre o assunto.

O texto dizia que um grande suicídio em massa estaria sendo planejado e envolveria mais de 5 mil jovens. Imagine só os pais nessa situação compartilhando ao máximo essa informação com outros pais e, consequentemente, com as suas crianças? Tudo isso envolveria um jogo que convidaria as pessoas a praticarem uma série de desafios que, no final, resultaria no já mencionado suicídio.

As autoridades acabaram concluindo que as informações do texto eram falsas. No final das contas, tudo acabou se mostrando uma grande mentira, mas ganhou repercussão porque no mesmo período duas meninas russas acabaram realmente se matando. Uma delas, de 15 anos, teria postado uma foto de uma baleia azul antes de tirar a sua própria vida.

A curiosidade das pessoas

Com essas informações espalhadas dessa forma, muitas crianças e adolescentes começaram a demonstrar interesse por esse tal jogo da Baleia Azul. O motivo ainda é um mistério, mas pode estar associado a casos de bullying e jovens que estão insatisfeitos com suas vidas. Porém, ao começar a pesquisar um pouco sobre o caso, elas logo descobriam que você não podia entrar nesse desafio. Você precisava ser convidado.

Esse convite é enviado por um “curador”, a pessoa responsável por propor e acompanhar os desafios. Supostamente, esse indivíduo começa a oferecer desafios mais “simples”, mas que logo vão evoluindo para atividades mais pesadas. No começo, são 28 desafios que vão se repetindo até chegar a 50. Se em algum momento a pessoa pensa em desistir, o curador começa a ameaçar a vítima dizendo que vai matar ela e toda a sua família caso ela realmente desista.

Muitos dos desafios tinham que ser comprovados. Isso era feito através de uma foto quer é enviado para o curador que acompanha a vítima.

Os 50 desafios

Esses são os 50 desafios que são propostos para as vítimas que caem essa armadilha da Baleia Azul:

1 – Com uma navalha, escreva a sigla “F57” na palma da mão e em seguida enviar uma foto para o curador.

2 – Assista filmes de terror e psicodélicos às 4:20 da manhã, mas não pode ser qualquer filme, o curador indicará, lembrando que ele fará perguntas sobre as cenas, pois ele quer saber se você realmente assistiu.

3 – Corte seu braço com uma lâmina, “3 cortes grandes” mas é preciso ser sobre as veias e o corte não precisa ser muito profundo, envie a foto para o curador, e seguirá para o próximo nível.

4 – Desenhe uma baleia azul e enviar a foto para o curador.

5 – Se você está pronto para se tornar uma baleia escreva “SIM” em sua perna. Se não, corte-se muitas vezes “Castigue-se”.

6 – Tarefa em código.

7 – Escreva “F40” em sua mão, envie uma foto ao curador.

8 – Em sua rede social, escreva “#i_am_whale” no seu status do VKontakte(Rede Social Russa) ou no Facebook. O texto significa “Eu sou uma Baleia”.

9 – Ele te dará uma missão baseada no seu maior medo, ele quer fazer você superar esse medo.

10 – Acorde as 4:20 da manhã e suba em um telhado, quanto mais alto melhor.

11 – Desenhe uma foto de uma baleia azul na mão com uma navalha e enviar a foto para o curador.

12 – Assista filmes de terror e psicodélicos, todas as tardes.

13 – Ouça as músicas que os “curadores” te enviarem.

14 – Corte seu lábio.

15 – Fure sua mão com uma agulha muitas vezes.

16 – Faça algo doloroso, “machuque-se”, fique doente.

17 – Procure o telhado mais alto, e fique na borda por algum tempo.

18 – Suba em uma ponte e sente-se na borda por algum tempo.

19 – Suba em um guindaste ou pelo menos tente.

20 – No próximo passo o curador irá verificar se você é de confiança.

21 – Encontre outra baleia azul, “outro participante”, o curador te indicará.

22 – Pendure-se novamente em um telhado alto, e apoie-se na borda com as pernas penduradas.

23 – Outra tarefa em código.

24 – Tarefa secreta.

25 – Reunião com uma baleia azul que o curador indicará.

26 – O curador indicará a data da sua morte, e você aceitará.

27 – Acorde as 4:20 e vá a uma estrada de ferro.

28 – Não fale com ninguém o dia todo.

29 – Fazer um voto de que você é realmente uma Baleia Azul.

30-49 – Todos os dias, você deve acordar às 4:20 da manhã, assistir a vídeos de terror, ouvir música que “eles” lhe enviam, fazer 1 corte em seu corpo por dia, falar “com uma baleia”. Durante o intervalo dos desafios entre 30 e 49.

50 – Tire sua própria vida.

Moda entre os adolescentes

Jogos com apelos de riscos letais têm virado moda entre os adolescentes. Um exemplo é o jogo da asfixia, que gerou vítimas no Brasil. Outro é o “desafio do sal e gelo”, no qual, para serem aceitos no grupo, os adolescentes devem queimar a pele e compartilhar as imagens nas redes sociais.

Embora exista há anos, o desafio voltou com força recentemente. Sem falar no “Jogo da Fada”, que incita crianças ligar o gás do fogão de madrugada, enquanto os pais dormem.

As recomendações para as famílias são: monitorar o uso da internet, frequentar as redes sociais dos filhos, observar comportamentos estranhos e, sobretudo, conversar e conscientizar os adolescentes a respeito das consequências de práticas que nada têm de brincadeira.

Atenção redobrada com os jovens que apresentem tendência a depressão, pois eles costumam ser especialmente atraídos por jogos como o da Baleia Azul. Também as escolas devem colocar o assunto em pauta e incorporar no currículo, cada vez mais, a educação para a valorização da vida, o respeito pela vida dos outros e o uso consciente das mídias e tecnologias.

Recomendações para os pais

Em conversa com especialistas, o portal G1 acabou reunindo algumas dicas para os pais e responsáveis que podem ajudar que seus filhos se envolvam em casos como esse. É muito importante prestar bastante atenção a essas informações, pois elas podem representar a diferença entre a vida e a morte de suas crianças.

1. Fique atento à mudança de comportamento

Uma mudança brusca de comportamento pode ser sinal de que a criança ou o adolescente esteja sofrendo com algo que não saiba lidar, segundo Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em psicologia escolar e docente no Instituto Singularidades.

“Isolamento, mudança no apetite, o fato de o adolescente passar muito tempo fechado no quarto ou usar roupas para se esquivar de mostrar o corpo são pistas de que sofre algo que não consegue falar”, diz.

2. Compartilhe projetos de vida

Para entender se a criança ou adolescente está com problemas é fundamental que os pais se interessem por sua rotina. Elizabeth reforça que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo por conta da repercussão do “Jogo da Baleia”.

“Os pais devem conhecer a rotina dos filhos, entender o que fazem, conhecer os amigos”, afirma a Elizabeth. Ela lembra que muitos adolescentes “falam” abertamente sobre a falta de motivação de viver nas redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os filhos tenham projetos para o futuro, tracem metas como uma viagem, por exemplo, e até algo mais simples, como definir a programação do fim de semana.

3. Abra espaço para diálogo

Filhos devem se sentir acolhidos no âmbito familiar, por isso, Elizabeth reforça que é necessário que os pais revertam suas expectativas em relação a eles. “É preciso que o adolescente se sinta à vontade para falar de suas frustações e se sinta apoiado. Se ele tiver um espaço para dividir suas angústias e for escutado, tem um fator de proteção”, afirma Elizabeth.

Angela Bley, psicóloga coordenadora do instituto de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, diz que o adolescente com autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é mais vulnerável a cair neste tipo de armadilha. “O que tem diálogo em casa, não é criticado o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele fale sobre o jogo, o que sente, é um momento de diálogo entre a família.”

Angela reforça que muitas vezes o adolescente não tem capacidade de discernir sobre todo o conteúdo ao qual é exposto. “Por isso é importante o diálogo franco. Não pode fingir que esse tipo de coisa não existe porque ele sabe que existe.”

4. Adolescentes devem buscar aliados

O adolescente precisa buscar as pessoas em que confia para compartilhar seus anseios, seja no ambiente escolar ou familiar, segundo as especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de quem já está em contato com o jogo e entenda que quem está a frente deles são manipuladores”, diz Elizabeth.

5. Escolas podem criar iniciativas pela vida

Assim como a família, as escolas podem ajudar a identificar situações de risco entre os alunos. “Não é qualquer criança que vai responder ao chamado de um jogo como esse, são os que têm situações de vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel fundamental de perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma Elizabeth.

Alguns colégios, já cientes da viralização do jogo, começaram a pensar em alternativas para aumentar a conscientização sobre a importância de cuidade da vida. No Colégio Fecap, que fica na Região Central de São Paulo, essa ideia virou projeto escolar: a turma de alunos do ensino médio técnico de programação de jogos digitais começou a criar uma espécie de “contra-jogo” da Baleia Azul.

“O jogo ainda está sendo produzido pelos alunos. Eles estão se reunindo e debatendo a questão. Serão 15 desafios de como desfrutar melhor da vida e celebrá-la”, conta o professor Marcelo Krokoscz, diretor do colégio.

Durante o curso, os estudantes aprender a aplicar linguagens de programação para criar jogos para computadores, videogame, internet e celulares, trabalhando desde a formação de personagens, roteiros e cenários até a programação do jogo em si. Segundo Krokoscz, a ideia é que o jogo, ainda sem prazo de lançamento, esteja disponível on-line para o público em geral.

Ele afirma que o objetivo é a ajudar os jovens a verem o lado bom da vida. “Impacta mais fortemente nossos alunos a partir do momento que eles mesmos criam um jogo a favor da vida”.