Vlog de Sexta: Publicidade Camuflada

13/01/2012

Pois bem, a idéia é mais ou menos essa: resolvi fazer uma coluna (se é que isso pode se chamar de coluna) na sexta sobre vlogs. Não exatamente sobre vlogs ou vloggers mas adotar a idéia abordadas neles para construir uma crítica sobre o tema.
Assisti alguns vlogs essa semana. O vídeo mais chamou minha atenção foi esse:

Estava assistindo esse vídeo ontem e lendo alguns dos comentários deixados pelos internautas no canal. Percebi o quanto as pessoas são ingênuas hoje em dia. Um dos temas proposto no vídeo, além da reclamação sobre o Felipe Neto, é a “publicidade camuflada/encoberta” (Não sei se o termo técnico é bem esse, vale lembrar que não sou publicitário).

Quando, há um tempo atrás, eu não lidava com blog, não tinha a menor noção de como funcionava a publicidade e era tão ingênuo quanto qualquer um dos comentaristas que acham que “não existe publicidade” nos vídeos do vlogger.

Ao contrário da publicidade convencional, a “publicidade encoberta” é um golpe extremamente estratégico aplicado de uma forma um tanto desrespeitosa ao consumidor. Uma das bases da “publicidade camuflada” é a persuasão, o famoso efeito “maria-vai-com-as-outras”. Por isso ela age de diversas formas, entre as quais, podemos citar uma forma bem comum: produtos que aparecem nos cenários dos filmes e das novelas. Para alguns críticos, isso é uma forma anti-ética de publicidade, pois a empresa está usando táticas de persuasão sem o seu conhecimento (por exemplo, quando você assiste um comercial ou lê um publieditorial, você sabe desde o começo que é publicidade pois é inerente daquele veículo). Na Europa existem leis que protegem o cidadão desse tipo de publicidade, sendo proibida em diversas frentes.

Já aqui no Brasil, é um carnaval, tudo é permitido. Não que o governo seja apático à esse modelo, o Estado já tentou dar um basta nisso, com a proposta da “Ley dos Medios”, que a Globo classificou como “censura” e “ditadura”e no fim, não deu em nada. E nessa falta de controle, esse quadro se expandiu e hoje, se encontra de tal maneira que até os telejornais, revistas e todo tipo de imprensa, colocam publicidade encoberta no meio de suas notícias e, o que eram para reproduzir a verdade, no final das contas, acaba sendo mais um objeto de manipulação.

Os dois exemplos mais recentes de “publicidade camuflada” aqui no Brasil são os casos do Neymar e do Michel Teló. Se você é um bom observador, deve ter notado a exponencial exposição de Neymar em 2011 para 2012. O que você pensou a respeito? Se foi “é porque ele joga muito” você foi vítima da publicidade camuflada e nem sabe. Concordamos, Neymar é um ótimo jogador. Mas o estardalhaço da mídia não se deve à esse fato. Isso é o resultado de um contrato de parceria da 9ine com a Globo. É por isso que desde a metade de  2011 quase todos os jornais Globais colocavam alguma reportagem, por mais babaca que fosse, sobre o Neymar. Ok, isso todo mundo viu…. mas e o Michel Teló? Primeiro você tem que analisar que a “Som Livre” é uma empresa das Organizações Globo. A Globo tem contrato com a 9ine. Lembra o que foi que estourou a música “Ai se eu te pego”? Lembra? Não? Então vamos refrescar a memória desse povo: foi a dança do Neymar no vestiário do Santos. Neymar é agenciado pela 9ine. É …. esse tempo todo o povo ficou achando que tinha sido um ato espontâneo… AH DUVIDO!! Tudo é um esquema muito bem planejado, como disse. Depois disso, dada a repercussão, a Globo começou a bombardear a música em todos os seus canais. E quando digo todos, é todos mesmo, desde o Faustão (típico anexador musical) até a capa da revista Época com uma reportagem especial que fez todo mundo questionar o propósito. Observando o andamento e percebendo que a estratégia de colocar um jogador de futebol dançando deu muito certo aqui, por que não tentar na Europa? Lá vamos nós de novo para 9ine. De quem é a 9ine? Ronaldo. Ronaldo é amigo íntimo de Cristiano Ronaldo. Daí provém a desconfiança: um pedido para que em uma comemoração de gol o jogador realizasse uma “dancinha tosca” não seria um pedido absurdo, seria? Por fim, para conquistar a América, acionaram o jogador de basquete do Denver, o pivô brasileiro Nenê. Nos EUA, a resposta não foi a esperada. E sabe por quê? Tudo se resume em duas palavras, poderosas palavras: Pessoa e Influência.

A teoria da abordagem empírico-experimental ou teoria da persuasão fala que para as pessoas obedecerem a uma ordem ou adotarem uma idéia, você não precisa controlar a todos, só precisa controlar quem gera a influência sobre a maioria. É nisso que se resume as campanhas citadas acima: eventos que parecem espontâneos para as pessoas acreditarem que determinada “celebridade” gosta daquilo e passarem a adotar a idéia por estarem sendo persuadidas (trocando em miúdos significa que por não terem personalidade suficiente para formar uma opinião própria essas pessoas adotam a personalidade de quem admiram, nesse caso, a “celebridade”). Foi por esse motivo que, nos EUA, a campanha do pivô não funcionou: faltou influência. Se fosse a Angelina Jolie ou a Oprah Winfrey dançando “Ai se eu te pego”, nessas horas a terra do Tio Sam estaria rebolando ao ritmo. Em contrapartida, as figuras utilizadas para divulgação no Brasil e na Europa foram muito bem selecionadas. A propaganda massiva do Neymar iniciada em junho, em setembro já tinha surtido efeito e estava no auge. Já Cristiano Ronaldo é um forte símbolo nos países Europeus que tem como um dos Esportes favoritos, o futebol. Agora Nenê … Nenê é apenas mais um jogador de basquete entre tantos outros nos EUA.

Deixando de lado essas supostas “negociatas” de cantores sertanejos, jogadores de futebol e agências,  outro ponto que assusta na publicidade encoberta é os “virais” e as atividades de cunho jornalístico.

Os “virais” tem diversas classes. Entre elas, existe uma que é totalmente anti-ética, tem como comportamento, fabricar uma notícia falsa para causar impacto. Um caso interessante é sobre o “This Man”, uma campanha viral onde uma agência jogou nas redes sociais uma notícia que relatava que várias pessoas estavam sonhando com uma mesma entidade. Esse homem apareceria nos sonhos das pessoas e lhe dava conselhos. A história deu tão certo que, em pouco tempo, já existiam fóruns e mais fóruns sobre o assunto, pessoas que deixavam seus depoimentos afirmando que o “This Man” havia visitado seus sonhos. Quando foi revelado que se tratava de um viral, já tinha gente fazendo tratamento psiquiátrico para se livrar do tal “This Man”, que no momento, já não dava mais conselhos e sim, estuprava suas vítimas.

Sobre as atividades de cunho jornalístico, quem aqui já viu aqueles especiais do “Jornal Hoje” falando que falta mão-de-obra qualificada no mercado de trabalho? Ou que o brasileiro tem que ser mais empreendedor? E depois, na sequência dessas reportagens percebeu que foram entrevistados funcionários do SENAI e do SEBRAE e frisam isso. Essas reportagens nem sempre transmitem a verdadeira. E que é constatado em campo que esse modelo dá muito mais retorno do que colocar uma propaganda falando sobre os cursos ou sobre a consultoria.

Por que é importante as pessoas saberem sobre esse segmento publicitário? Simples: a “publicidade encoberta” funciona apenas se o consumidor não está ciente de que está sendo feita a publicidade, caso contrário, se ele perceber qualquer manobra do gênero, o resultado é negativo para empresa pois o seu público, na maioria dos casos, irá interpretar isso como uma “agressão”, visto que o ato de camuflar é automaticamente ligado à tentativa de manipulação e, cá entre nós, quem é que gosta de ser manipulado?

Por isso amigo, desconfie. Construa sua opinião em cima dos seus pensamentos e conhecimentos e não embasado em que uma “celebridade” disse ou fez. Julgue um fato investigando e não pelo que o jornal falou. O povo precisa de consciência, caso contrário, vira vítima da mídia. Se livrar das cordas do titereiro não é uma tarefa fácil, no entanto, apenas sem elas você conseguirá exercer sua cidadania por completo.