James Buchanan Duke, o pai do maior assassino da história

29/01/2013
James Buchanan Duke, o pai do maior assassino da história (1)

Será que este ilustre senhor conhecido por James Buchanan Duke (1856-1925), pioneiro na fabricação e distribuição de cigarros manufaturados, pode ser responsabilizado pelas milhares de mortes que esta droga legalizada tem causado?

Quando o famoso cirurgião americano Alton Ochsner (1896 – 1981) ainda era um estudante de medicina em 1919, sua classe foi chamada para observar a autópsia de uma vítima de câncer de pulmão.  Na época, a doença era tão rara que os estudantes acharam que não teriam outra chance de testemunhar algo parecido.

Estima-se que o tabagismo matou cerca de 100 milhões de pessoas no século XX.  Mas, até o ano 2000, a doença matou cerca de 1,1 milhões de pessoas por ano, e 85% dos casos tiveram a mesma causa: o tabaco.

Um cigarro é o artefato mais mortífero na história da civilização humana“, diz Robert Proctor, da Universidade de Stanford. “Ele matou cerca de 100 milhões de pessoas no século XX.

Jordan Goodman, autor do livro “Tabaco na História” disse que, como historiador, ele teve o cuidado de não apontar o dedo a nenhum indivíduo, “mas na história do tabaco eu me sinto confiante em dizer que James Buchanan Duke, também conhecido como Buck Duke, foi o responsável pelo fenômeno da século XX conhecido como cigarro.

Duque não só ajudou a criar o cigarro moderno, ele também foi pioneiro nos métodos de comercialização e distribuição, fatos que o empurrou totalmente para o sucesso atingindo todos os continentes.

Da mão para a máquina

Em 1880, com a idade de 24 anos, Duke entrou para o negócio do momento para o tabaco: cigarros laminados. Um pequeno grupo, em Durham, Carolina do Norte, EUA, enrolavam à mão os cigarros de palha “Duke of Durham” e torciam as pontas para selar.

Dois anos mais tarde Duque viu uma oportunidade e começou a trabalhar com um jovem mecânico chamado James Bonsack. Bonsack lhe disse que poderia mecanizar a fabricação de cigarros. Duke estava convencido de que as pessoas iriam preferir fumar cigarros perfeitamente enrolados, feito à máquina e perfeitamente simétricos. Foi então que a Máquina Bonsack revolucionou a indústria do cigarro.

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Ele produzia um cigarro de comprimento quase infinito, e o cortava com longas tesouras“, explica Robert Proctor, em conversa com a BBC. As extremidades abertas recebiam aditivos químicos, adição de açúcar, glicerina e melaço para evitar que secassem.

Mas manter cigarros molhados não foi o único desafio: Enquanto os operários enrolavam cerca de 200 cigarros por turno, a nova máquina produzia 120.000 cigarros por dia, cerca de um quinto do consumo nos EUA nesse momento. “O problema era que ele estava produzindo mais cigarros do que podia vender“, diz o historiador Goodman. “Ele tinha que encontrar uma maneira de capturar esse mercado.

A resposta foi em publicidade e marketing. Duke patrocinou corridas, ofereceu cigarros grátis em concursos de beleza e colocou anúncios nas primeiras revistas ilustradas de moda. Somente em 1889 ele gastou US$ 800.000 em marketing (cerca de US$ 25 milhões comparado com o dólar de hoje).

Bonsack patenteou sua máquina, mas como um sinal de gratidão pelo apoio de Duke ao seu desenvolvimento, ele ofereceu um desconto de 30% sobre o arrendamento. Esta vantagem competitiva, juntamente com uma promoção vigorosa foi a chave para o sucesso inicial de Duke. Como ele predisse, as pessoas gostaram da nova indústria de cigarros, pois agora eles pareciam mais modernos e principalmente higiênicos, pois os antigos eram feitas à mão e selados com saliva.

Cigarros “saudáveis”

Mas, embora o consumo de cigarro tenha quadruplicado em 15 anos nos EUA, em 1900 ainda havia um nicho de mercado de tabaco mastigado ou fumado e de charutos.

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Duque gostava de fumar charuto, mas viu o potencial de consumo de cigarros em lugares reservados para charutos e cachimbos, em salões e restaurantes. A facilidade com que as pessoas poderiam pegar e utilizar, ao contrário dos tubos de tabaco, foram um bônus para os breves momentos de descanso na vida urbana moderna.

O cigarro foi realmente utilizado de uma maneira diferente“, diz Proctor. “Porque é mais suave, supostamente. E esta é uma das grandes ironias, acreditava-se que os novos cigarros eram mais seguros do que os cigarros antigos, porque eles eram apenas menores, certo?” Errado!

Agora sabemos que os cigarros são mais viciante do que charutos ou cigarros de palha. O fato de que a fumaça é inalada, algo que não é comum com charutos, também os torna mais perigosos. No entanto, ele não tinha relação com câncer de pulmão até 1930, mas foi relacionado coma a causa da doença em 1957 no Reino Unido e em 1964 nos EUA.

Na verdade, inicialmente os cigarros foram promovidas como benéficos para a saúde. Até 1906 ele estava em enciclopédias médicas e farmacêuticas e era prescritos para tosses, constipações e tuberculose (doença que a Organização Mundial de Saúde (OMS) vincula diretamente ao consumo de Tabaco).

Nos anos de 1900 houve um movimento anti-tabaco mas suas objeções tinha mais a ver com a moralidade do que com a saúde. O aumento do tabagismo entre as mulheres e as crianças alimentavam preocupações sobre a decadência moral da sociedade. Entre 1890 e 1927, os cigarros foram proibidos em 16 estados dos EUA.

Produto Universal

Duke então começou a olhar para fora, e em 1902 ele criou a British American Tobacco, com seu rival transatlântico Imperial Tobacco. Ele criou embalagens variadas e estratégias de marketing para atender diferentes tipos de consumidores, mas por dentro os cigarros eram basicamente o mesmo. Mais de uma década antes da criação do Ford Modelo T, o carro que introduziu a produção em massa, Duke já tinha um produto universal.

A globalização, com a qual estamos familiarizados atualmente com McDonalds e Coca-cola foi precedida por Duke e o tabaco“, diz o historiador Goodman.

O alcance global de cigarros continua a se expandir hoje em dia. Embora o tabagismo esteja em declínio em muitos países ocidentais, a demanda nos países em desenvolvimento aumentou em 3,4% ao ano, levando a um crescimento global no consumo de cigarros.

A OMS alerta que, se medidas preventivas não forem tomadas, 100 milhões de pessoas morrerão de doenças relacionadas com tabaco nos próximos 30 anos, mais do que de AIDS, tuberculose, acidentes de trânsito e suicídios juntos.

E então, podemos culpar Buck Duke por tudo isso? Afinal de contas, ninguém é obrigado a começar a fumar, embora seja difícil parar. Em um recente artigo publicado no jornal Tobacco Control, Robert Proctor argumenta que muitas pessoas viciadas no cigarro responsabilizam em parte a indústria do tabaco.

Temos de perceber que os anúncios podem ser cancerígenos, além de lojas e farmácias que vendem cigarros. Executivos que trabalham para empresas de cigarros também causam câncer, bem como os artistas que desenham as embalagens e também as empresas de relações públicas e de publicidade responsáveis por gerenciar as suas contas!“, diz Proctor.

“O grande problema do século XX”

Os argumentos dos processos judiciais bem-sucedidos contra as grandes empresas de tabaco argumentam que conheciam os efeitos nocivos de seus produtos, mas não fizeram nada sobre isso. No entanto, Buck Duke que morreu em 1925, não sabia.

Eu não posso culpá-lo por causa do cigarro“, diz seu biógrafo Bob Durden, que é rápido em apontar os traços positivos do caráter de Duke. “Ele era um trabalhador e amava seu trabalho.

Entre seus melhores trabalhos são mais de 100 milhões de dólares doados para o Trinity College, em Durham, que foi renomeado Duke University, em 1924 (em honra de James Buchanan Duke e seu pai, Washington Duke, um outro benfeitor).

Mas se não fosse por Buck Duke os americanos ainda estariam mastigando tabaco? Será que teríamos as famosas escarradeiras na porta de bares, restaurantes, estádios de futebol e etc?

Goodman acredita que o mundo caminhava inevitavelmente para a produção mecanizada de cigarros. A máquina de Bonsack não era o único protótipo, e se Duke não tivesse tido a oportunidade ele teria outro empregador.

Duke foi um herói e um vilão, eu acho. Um herói pela forma como ele entendeu o mercado, a psicologia humana, e os preços da publicidade“, diz Goodman.

No entanto, apesar de suas grandes realizações como arquiteto da produção em massa e da globalização, a sua lenda permanece ofuscada por sua criação controversa.

“Ele fez os cigarros de fumo do mundo”, concluiu Goodman. “E esse tem sido o grande problema do século XX”.

Emancipação Feminina

Dr. Robert K. Jackler da Universidade de Stanford explica como Duke começou a incentivar as mulheres a fumar no início do século XX.

A indústria tinha um problema, pois não poderia convidar as mulheres a fumar através de publicidade, então ele tinha que promover uma mudança cultural.

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Na época uma mulher fumando em um canto era um sinal de prostituição e uma mulher fina nunca fumaria em público. Edward Bernays – que era parte da família de Sigmund Freud – foi empregado pela American Tobacco Company para criar uma estratégia de relações públicas que permitiriaa que mulheres fumassem livremente.

Então no final dos anos 20, ele pagou um grupo de mulheres para marchar pela Quinta Avenida, em Nova York, no desfile de Páscoa, acenando com suas “tochas da liberdade”, os cigarros. Será então que o cigarro se tornou um símbolo da emancipação das mulheres? Parece que a exemplo de muitos movimentos sociais que já ocorreram e que ainda ocorrem nos dias de hoje, são estimulados por um propósito capitalista e consumista!

Via BBC Mundo